quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

UM CONTO DE ALGODÃO DOCE

Goiânia - Ano III - 122


Olá Químicos e Agregados

Vou contar uma pequena historinha hoje (Baseado em fatos reais. Ou não...)

Goiânia - Verão de 2009.

                Perto das 6 da tarde, de uma tarde um tanto chuvosa do verão goiano, Nolram, de forma repetitiva e tediosa, como todos os dias, foi buscar seu filho Drigoro na escola. O menino entra no carro um tanto agitado e dizendo que queria um Algodão Doce, já que há 5 minutos havia passado por ali um vendedor da deliciosa iguaria. Colocando o carro em movimento e rumando para casa, eis que Nolram vê, à sua esquerda, a uns 100 metros, um vendedor de Algodão Doce, carregando um pedaço de madeira, repleto de sacos de cores diferentes, desde rosa, até azul.
                Imediatamente Drigoro também viu e clamou o doce para o pai. Nolram parou o carro e perguntou o preço do Algodão Doce. Debaixo de fina chuva, não menos fria, o vendedor, que portava um chapéu de pano, bermuda e camiseta e um leve cavanhaque acompanhando os cabelos presos em rabo de cavalo, parou sua caminhada e informou o preço. Nolram tirou sua carteira e desolado, notou que não havia nem mesmo uma ínfima moedinha. Agradeceu ao vendedor. No mesmo momento, Drigoro, no alto de seus 4 anos começou a chorar de tristeza, sentindo a possibilidade de, naquele momento, ficar sem o desejado Algodão Doce.
                Nolram tentou explicar que depois compraria o famigerado algodão doce para Drigoro e tudo mais que os pais fazem nesses momentos críticos, antes de perder a paciência e encerrar com uma voz de comando rouca e séria. Eis que nosso vendedor se aproximou do vidro traseiro do carro e ofereceu o pacote de algodão doce para Drigoro. O pai, preocupado disse que não tinha dinheiro. O vendedor disse:
                - Não esquenta, não, moço. Criança chorando é muito triste. Toma, criança. Fica com esse. É um presente do tio.
                Drigoro ficou extremamente feliz. Nolram fez o de sempre. Obrigado senhor vendedor, não precisava, etc e tal e tudo mais o que se fala nessas horas de gentileza. Ficou também tocando com a atitude do vendedor, prometendo a si mesmo que um dia pagaria àquele vendedor, considerando-se que aquele era seu meio de sustento. “Não posso deixar passar isso. Ele precisa do dinheiro. É seu ganha-pão”, pensou Nolram, achando-se responsável socialmente. Foi-se embora, pensando o quão gentil foi aquele vendedor. “Um dia eu o acho”, pensou Nolram.

Goiânia – Verão de 2013

                Nosso Drigoro é agora um moleque de 7 anos. Arteiro como sempre. Nolram, ao buscar novamente o filho na escola, em uma rotina incansável e não menos repetitiva com o passar dos anos, vê a sua direita, um vendedor de algodão doce. Estava descendo novamente a mesma rua que descia há certo tempo. Parecia ser o mesmo vendedor. O mesmo chapéu de pano, a mesma camiseta, mas a bermuda tinha uma cor diferente. No entanto, a chuva fina e fria continuava a mesma. Nolram não teve dúvidas. Parou o carro, dirigiu-se ao vendedor, comprou dois pacotes de algodão doce, um para Drigoro e outro para si mesmo. Deu uma nota em um valor duas vezes superior ao preço cobrado e disse que não precisava do troco. Quando o vendedor tentou interpelá-lo pelo fato, explicou a situação ocorrida em 2009.
                - Olha, seu moço, fico muito tocado com isso e entendo o que o senhor deseja. No entanto, naquele dia, eu só quis fazer uma criança feliz com o que eu tinha a oferecer no momento, que eram meus pacotes de algodão doce. Aquilo foi uma gentileza que eu espero sempre que gere outra. Tome, fique com seu troco. Afinal de contas, todos nós sempre temos que oferecer o que temos para a felicidade de todos. E o que eu tinha era algodão doce.
                O vendedor abriu um sorriso longo, devolveu o troco para Nolram e saiu todo serelepe a vender seus pacotes de Algodão Doce pela rua. Em um chuvisco fino, mas molhado.
                Nolram conclui que, pensando em pagar o vendedor pela gentileza, acabou por de alguma forma, sentir-se melhor e superior ao vendedor, mesmo que de forma inconsciente. Pensou falsamente que somente pessoas com bens financeiros poderiam fazer gentilezas com crianças de classe menos favorecidas. E que era sua “obrigação” devolver(??) aquele dinheiro que não havia sido pago.
               Inocente, mas muito preconceituoso o pensamento de classes que tinha esse Nolram. Não pensou que todos têm direito a ser gentis. Independente da classe social. Capitalista o pensamento de Nolram, enfim.
              Adaptado à sociedade que critica esse Nolram...

Comentário do Blog: Falei com Nolram ontem. Ele disse que precisa refletir mais suas ações. Confio nele.