Goiânia - Ano II - 115
Olá Químicos e Agregados.
Recentemente, li uma reportagem sobre a fusão de disciplinas no ensino médio. A grosso modo, a proposta considera a fusão das disciplinas de Química, Física e Biologia em uma apenas, chamada de Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Os argumentos são o de sempre: é necessário maior interdisciplinaridade e tal fator facilita o entendimento da ciência como um todo pelos alunos e isso pode melhorar as notas no IDEB e no ENEM.
Não sou contra a interdisciplinaridade, mas é lógico e evidente que isso é mais uma proposta de reforma educacional que NÃO considera o que de fato é importante: professores da escola e a própria escola.
Desde há muitos milhares de aéons (fui longe agora), ao invés de promover mudanças que realmente impactam na melhor formação de nossos alunos, nossos governantes pensam no que? Em reformar o currículo.
Meu pai fez o primário. Eu fiz o 1o. grau e meu filho faz os anos iniciais. Sabe o que mudou? Nada.
Minha mãe cursou o colegial, eu e meu irmão cursamos o 2o. grau e meu filho cursará o ensino médio. Sabe o que mudou? Nada.
Agora vão nos prejudicar da seguinte maneira. Diminui-se a carga horária de Física, Química e Biologia e colocam uma carga menor e interdisciplinar de Ciências da Natureza. Vai dar errado. Por quê?
1) Até hoje, nem nós, formadores de professores, nem nossos alunos temos a exata ideia do que seja essa tal interdisciplinaridade. O máximo que fazemos é a multidisciplinaridade, que na verdade, é um arremedo da primeira;
2) Teríamos que mudar nossos cursos de licenciatura para essa nova visão. Se nós que somos da área de educação já temos dificuldade nisso (há zilhares de artigos que não me deixam mentir), imagina nossos colegas formados nas áreas de pesquisa básica. Não estou dizendo que são incompetentes. Estou dizendo da formação que tiveram e não vão mudar da noite para o dia;
3) Haveria a necessidade de formação continuada para milhares de professores para essa nova visão. Convenhamos, já é difícil fazer formação continuada dentro do ensino de química, imagina em ensino de ciências da natureza.
Finalmente, não é dificil saber o que há por trás dessa proposta. NÃO temos professores suficientes em nenhuma dessas disciplinas. Faltam, e muito, professores de Biologia, Química e Física, em torno de 200 mil, somando-se as três áreas.
Assim, o que é mais fácil para nossos governantes no momento?
Investir na formação de professores, na melhoria de seus salários e condições de trabalho? NÃO.
Tornar a profissão atrativa para os melhores alunos do ensino médio com um plano de carreira e um salário atrativo? NÃO.
Melhorar a estrutura das escolas? NÃO.
O mais fácil é diminuir o número de disciplinas e aproveitar os professores existentes e os poucos que ainda se formam. Isso, para mim, é uma manobra para contornar a deficiência na formação de professores que nós não vamos resolver em pelo menos 15 anos se não tornarmos a profissão atrativa. Eles não querem melhorar o ensino médio, querem dar um jeitinho na absurda falta de professores dessas áreas no Brasil.
É isso. Abraços a todos.