quarta-feira, 29 de agosto de 2012

SOBRE A PROPOSTA DE FUSÃO DE DISCIPLINAS DO MEC

Goiânia - Ano II - 115

Olá Químicos e Agregados.

Recentemente, li uma reportagem sobre a fusão de disciplinas no ensino médio. A grosso modo, a proposta considera a fusão das disciplinas de Química, Física e Biologia em uma apenas, chamada de Ciências da Natureza e suas Tecnologias.

Os argumentos são o de sempre: é necessário maior interdisciplinaridade e tal fator facilita o entendimento da ciência como um todo pelos alunos e isso pode melhorar as notas no IDEB e no ENEM.

Não sou contra a interdisciplinaridade, mas é lógico e evidente que isso é mais uma proposta de reforma educacional que NÃO considera o que de fato é importante: professores da escola e a própria escola.

Desde há muitos milhares de aéons (fui longe agora), ao invés de promover mudanças que realmente impactam na melhor formação de nossos alunos, nossos governantes pensam no que? Em reformar o currículo.

Meu pai fez o primário. Eu fiz o 1o. grau e meu filho faz os anos iniciais. Sabe o que mudou? Nada.

Minha mãe cursou o colegial, eu e meu irmão cursamos o 2o. grau e meu filho cursará o ensino médio. Sabe o que mudou? Nada.

Agora vão nos prejudicar da seguinte maneira. Diminui-se a carga horária de Física, Química e Biologia e colocam uma carga menor e interdisciplinar de Ciências da Natureza. Vai dar errado. Por quê?

1) Até hoje, nem nós, formadores de professores, nem nossos alunos temos a exata ideia do que seja essa tal interdisciplinaridade. O máximo que fazemos é a multidisciplinaridade, que na verdade, é um arremedo da primeira;

2) Teríamos que mudar nossos cursos de licenciatura para essa nova visão. Se nós que somos da área de educação já temos dificuldade nisso (há zilhares de artigos que não me deixam mentir), imagina nossos colegas formados nas áreas de pesquisa básica. Não estou dizendo que são incompetentes. Estou dizendo da formação que tiveram e não vão mudar da noite para o dia;

3) Haveria a necessidade de formação continuada para milhares de professores para essa nova visão. Convenhamos, já é difícil fazer formação continuada dentro do ensino de química, imagina em ensino de ciências da natureza.

Finalmente, não é dificil saber o que há por trás dessa proposta. NÃO temos professores suficientes em nenhuma dessas disciplinas. Faltam, e muito, professores de Biologia, Química e Física, em torno de 200 mil, somando-se as três áreas. 

Assim, o que é mais fácil para nossos governantes no momento? 
Investir na formação de professores, na melhoria de seus salários e condições de trabalho? NÃO.
Tornar a profissão atrativa para os melhores alunos do ensino médio com um plano de carreira e um salário atrativo? NÃO.
Melhorar a estrutura das escolas? NÃO.

O mais fácil é diminuir o número de disciplinas e aproveitar os professores existentes e os poucos que ainda se formam. Isso, para mim, é uma manobra para contornar a deficiência na formação de professores que nós não vamos resolver em pelo menos 15 anos se não tornarmos a profissão atrativa. Eles não querem melhorar o ensino médio, querem dar um jeitinho na absurda falta de professores dessas áreas no Brasil.

É isso. Abraços a todos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SOBRE O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL

Goiânia - Ano II - 114

Olá Químicos e Agregados.

Continuando uma discussão sobre as cotas na universidade, O Blog do IQ UFG publica um texto da Profa. Dra. Anna Maria Canavarro Benite, construído exclusivamente para esse blog.


SOBRE O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
Profa. Dra. Anna Maria Canavarro Benite*
Hoje, gostaria de convidá-los a pensar sobre a origem da cultura brasileira. Afinal quem somos nós?
Fato muito interessante acontece comigo todas as vezes que digo ou assino meu sobrenome. Benite de onde??? Qual sua descendência? Ora sou daqui mesmo, afro-brasileira e estudante de escola pública. Meu nome e sobrenome nasceram e se criaram nos terreiros de candomblé, nas rodas de capoeira do Rio de Janeiro, isto é, dentro das casas de meus avós, tios e primos, aos sons dos atabaques e berimbaus... E é desse lugar cultural que me posiciono, pois só se fala com maior argumento do lugar que se ocupa.
Por sua vez, a cultura brasileira, a minha, a sua cultura, bem como a de toda a América Latina é formada por uma estrutura triangular característica do período de colonização resultado da mescla de tradições ameríndias, européias e africanas. Porém, histórica e erroneamente o negro é visto como inferior e caracterizado de maneira negativa. A comunidade afro-descendente, ainda hoje, sofre com o preconceito, o descaso e a falta de oportunidades, fenômeno social esse que teve origem no contexto vivido desde a época da colonização.
            No Brasil, ainda persiste um imaginário étnico-racial que valoriza as raízes européias de sua cultura fazendo presente à desigualdade social e racial, bem como a desvalorização da religiosidade, estética, corporeidade e musicalidade africana.
A identidade cultural brasileira começa a ser construída após abolição (1889-1930) com a adoção da política de imigração adotada pelo Estado, com o intuito de apagar os sinais da miscigenação. Tais interesses foram disseminados por representantes e intelectuais da época os quais propagavam que com o decorrer do tempo a população brasileira iria embranquecer por meio do apagamento de uma memória social.
Este apagamento ocorreu apoiado em políticas de Estado adotadas na formação da chamada “identidade cultural heterogênea” que encontra no sincretismo e no multiculturalismo elementos operantes do mito da democracia racial. Por sua vez, a primeira geração de intelectuais que discute no Brasil as questões étnico-raciais tem em Gilberto Freyre seu maior expoente. Este inundou o imaginário dos brasileiros com sua obra descrevendo relações horizontais entre os senhores e escravos, uma sociedade sem conflitos, harmoniosa.
Mas o que é um mito?  O mito é expressão de negação e justificação da realidade negada. O mito é uma máscara capaz de subverter a realidade e adequá-la às necessidades “temporárias” de determinados grupos: a distorção colonial como contrapartida da inclusão de mestiços nos núcleos das grandes famílias.
Entretanto, as memórias africanas transformadas em solo brasileiro, insistem, persistem e resistem: o congado, a capoeira, o candomblé, o jongo, etc... Infelizmente a educação não tem sido local deste movimento.
            Diante desse cenário, está a escola concebida como um microcosmo da sociedade que tem o poder de interferir na formação do aluno e no seu posicionamento frente ao mundo. Apóio-me em Paulo Freire para afirmar que o homem é um ser histórico, constituído socialmente, que aprende por meio da interação com o seu meio: indivíduos pertencentes ao mesmo local e tempo. E, deste modo, a instituição escolar se constitui importante local de superação do mito.
            Importa que as ciências ensinadas em nossos bancos escolares se afastem da visão deformada de ciência branca, eurocentrica e masculina. Para isso, urge que tenhamos diferentes representatividades nos espaços de produção científica, espaços de desmistificação ou não.
            Gostaria de terminar parafraseando um querido amigo, professor Guimes Rodrigues, quando afirma que “num momento em que se busca, através da ciência genética, sacramentar a não existência de raças, a nós, negros, isso pouco importa, porque a raça negra é, para além da ciência, um conceito que fortalece a nossa identidade e imprime orgulho para enfrentar o racismo brasileiro”.
Não há como negar nossa construção histórica, esses são nossos limites sociais. Por outro lado, tenho uma boa notícia: não temos experiência histórica no Brasil com inclusão nas diversas instâncias sociais.

*Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão-LPEQI

Como sempre, amplo espaço ao contraditório a quem quiser comentar. Sem ofensas ou xingamentos. Abraços a todos.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

AS COTAS PARA NEGROS NAS FEDERAIS

Goiânia - Ano II - 113

Olá Químicos e Agregados.

Esse fim de semana eu vi nos jornais o protesto de estudantes de escolas particulares contra a cota nas federais para negros e alunos de escolas públicas.

Vi todas as fotos da passeata. E vi também a quantidade de negros nessa passeata. Nas fotos que vi, nenhum.

E eu. Sou contra ou a favor? Vamos a um pequeno histórico de minha vida:

1) Quando eu cursei o primário, de 1a. a 4a. série, em uma escola pública na gloriosa cidade de Centralina - MG, éramos em média, 40 crianças na sala de aula. E havia o Nilton. Negro. Ou seja, 2,5% da sala.

2) Da 5a. série até a 7a. série, na mesma escola e na mesma cidade, vejam só, não havia mais o Nilton. Teve que abandonar para ajudar os pais na fazenda. Não havia mais o Nilton. Negro. 0% da sala.

3) Na 8a. série, já em Uberlândia - MG, cidade de mais de 600 mil habitantes, tive a sorte de estudar em uma das melhores escolas públicas da cidade. Minha sala tinha 43 alunos. Não havia Negros. 0% da sala.

4) Aí fui para o ensino médio. Já estudando à noite, pois tive que trabalhar. Do 1o. ao 3o. ano do Ensino Médio, éramos em média, 40 alunos por sala. 120 nos três anos. Total de negros: 3.De novo, 2,5% da sala. Impressionante é eu me lembrar do nome do Nilton e não me lembrar dos outros três do ensino médio. Minha memória recente tá horrível.

5) Depois, universidade. Entre 1992 e 1998 na Universidade Federal de Uberlândia, cursando Química, eu conheci uma quantidade "expressiva" de Negros, se comparados ao meu ensino básico: 5 (cinco), em um universo de quase 300 alunos, entre eles o Hélder, hoje, professor do curso de Química da UFU.

6) No mestrado e no doutorado na UFSCar, em um universo de quase 400 alunos, conheci 2 negros. Não, na verdade não fomos apresentados pois eram de outro laboratório. Eu os via na Química.

7) Já como professor aqui na UFG, o que vejo? Somos 40 professores. 4 negros. Somos 400 alunos, entre graduação e pós graduação e temos no máximo, 15 negros.

E por que eu escrevi isso tudo? Ora, segundo o banco de dados criado pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República) juntamente com a Faculdade Zumbi dos Palmares, 51% da população brasileira é constituída por negros. Uma diferença não muito significativa com os dados do IBGE (Cerca de 46%).

Ou seja, dá pra ver que a minha história não é muito diferente da maioria de nós, brancos, no país. Negros NÃO estão incluídos em nenhuma etapa do ensino formal no Brasil. Compare então as porcentagens da população com as porcentagens de inclusão na educação formal. Chega  a ser covardia.

Agora, pergunte-me de novo se sou ou não a favor das cotas? É claro que sou a favor.

Eu não sofri racismo na sociedade e na escola, em todos os níveis e em todos os momentos. Eu não precisei ouvir piadas ridículas e racistas desde o primário. Eu não fui preterido por professores brancos. Eu não fui preterido em times na educação física. Eu tive uma grande quantidade de oportunidades, inclusive em entrevistas de emprego. 

Se em algum momento você acha que isso tudo não influencia a aprendizagem de uma criança. Você realmente tem que rever seus valores.

Mas não sou especialista. Até sexta feira, uma especialista na área escreverá nesse blog.

Sempre abrindo espaço para o contraditório, lembrando a todos para não xingar ou ofender ninguém.

Abraços a todos. Ainda volto para falar das cotas para estudantes de escolas públicas.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

741 docentes...

Goiânia - Ano II - 112

Olá Químicos a Agregados.

741 docentes. Esse é o número de professores presentes na última assembleia de nossa categoria, no último dia 14 de Agosto de 2012. 

Foi um marco para o movimento docente. Muita gente falando que foi o recorde de presença de professores em uma assembleia da categoria. Pelo menos nos meus 10 anos de UFG.

E com esse tanto de gente presente, eu votei contra a continuação da greve. Tento esclarecer os meus motivos, para quem sabe, gerarmos uma discussão, ou vocês me mostrarem que estou errado, ou certo, é claro. 

Já adianto. Pensando melhor, nunca há certo ou errado em situações como essa...mas vamos lá.

1) Não me sinto mais confortável com DOIS sindicatos representando a nossa categoria. Isso nos divide e tal aspecto ficou muito claro nas assembleias e nos institutos e faculdades. Muitos dizem que é culpa do PROIFES que é um braço do governo e a intenção de sua fundação era essa mesmo: partir o movimento. Mas ninguém reclamou dos acordos anteriores que foram assinados pelo PROIFES entre 2007 e 2010, no qual a ANDES só veio a assinar depois.

2) De qualquer forma, a conduta do PROIFES dessa vez deixou mesmo a desejar. Penso que era o momento da união entre os dois sindicatos. Mas o PROIFES assinou um acordo dizendo que seus 15 pontos foram contemplados. Eu nunca vi e nem conhecia esses 15 pontos. E olha que tento me informar de tudo. 

3) As informações do ANDES também não são claras. Metade das informações são truncadas por ataques ao governo e a outra parte em ataques ao PROIFES. Esse lance de carreira única para o Magistério Superior e para o Ensino Básico me soa como desconhecimento das duas realidades.

4) Assim, não me sinto representado por nenhum dos dois. Ponto. Saliento que não desconsidero a tentativa do Comando Local em unir as duas correntes. Sem sucesso, é claro.

5) Greve, como movimento paredista, é parar tudo mesmo. Graduação, Pós Graduação, Pesquisa, Extensão, e tudo mais. Não me engano. Não se enganem. Não nos enganemos. Não paramos totalmente. Arrisco dizer que 85% da UFG (e me incluo) não parou todas as suas atividades. Varios projetos da UFG continuam funcionando. Mais da metade dos professores terminaram o semestre anterior. Por coerência, não posso votar para me manter em um movimento de greve, se não estou totalmente parado. Como sempre, só a graduação acaba se ferrando.

6) Fiquei muito triste, ao ver, na votação para continuidade ou não da greve, os votantes que aprovaram a continuidade da greve (379) comemorarem o resultado vitorioso (contra 267 que votaram pela não continuidade da greve) como se tivesse sido um gol. Vi professores pulando e socando o ar! Gritando palavras de ordem! Comemorando frente aos "derrotados" como se esses fossem pobres alienados e contra o "movimento". Ora, a democracia pressupõe o voto contrário. "Comemorações" como essa racham ainda mais o movimento. Não posso crer que haviam 267 professores manipulados pela ADUFG como alguns professores querem fazer parecer.

7) Não acho que a proposta final seja de todo ruim. Há pontos bons, que os dois sindicatos concordam. Por que não batalharam esses pontos em comum? Porque de forma partidária, os dois não se bicam, pois não há mais sindicato, há partidos políticos.

8) 379 + 267 + 1 abstenção = 646. Para 741 ainda faltam 95. Por que não votaram? Onde estavam? 

9) Perdi na votação. Democraticamente acato o que foi decidido e me mantenho em greve. Por respeitar muito dos meus companheiros que estão de fato comprometidos com o movimento. 

10) Concluo. Estou perdido em meio às informações dos dois lados. E mais, em ambos há erros no cálculo e tentativa de distorções. Isso se vê também na assembleia. 

11) Antes de me crucificarem, não pensem que não sei dos problemas da educação, do descomprometimento do governo etc e tal. Não sou alienado e quem me conhece sabe que sou comprometido. A questão de fundo aqui é outra e claro, não se encerra nesse post.

11) Aguardo o dia 28, e até lá, tento saber se de fato essa proposta do governo é boa ou ruim, pois, pelas informações dos sindicatos, não dá para saber. Ou sou muito burro mesmo. Pensando que muita gente que respeito é a favor da continuidade da greve, definitivamente, sou burro mesmo.

Sem ofensas, xingamentos e tudo mais, podem ficar a vontade para comentar.

Abraços a todos.