segunda-feira, 26 de setembro de 2011

PUBLICO PRIVADO OU PRIVADO PÚBLICO????

GOIÂNIA - ANO I - 94

Olá Químicos e Agregados.

Eu pensei que já havia visto de tudo em termos de educação no estado de Goiás. Mas fui surpreendido negativamente com essa notícia, veiculada no O POPULAR de hoje: "Parceria Busca Melhores Notas".

Se vocês não viram, vou explicar: a Secretaria de Educação, SEDUC, selecionou mais ou menos 2000 alunos da rede pública, para assistirem aulas em 7 grandes colégios particulares de Goiânia, aos domingos de manhã, nos próximos 2 meses. Uma espécie de "intensivão" para o ENEM. O intuito é fazer com que esses alunos tirem uma nota melhor no ENEM.

As aulas têm duração de 4 horas e começaram em Agosto, com término em Outubro.

Você pode estar pensando assim:"Nossa, que legal por parte da secretaria, né? Dando oportunidade para os alunos terem boas aulas, com bons professores, aumentando sua nota no ENEM." 

Correto? Não!! Errado. Vou explicar na forma de itens, para facilitar nosso entendimento do absurdo que isso se configura:

A) Essa parceria NÃO beneficia a rede pública. As notas do ENEM, se caso melhorarem, vão trazer dividendos para a SEDUC, inflando notas que não são reais, obtidas por meio de intensivos, e mais, o senhor secretário poderá utilizar essas notas como dividendos políticos em prol de sua gestão, anunciando coisas do tipo: "Em minha gestão, aumentamos a nota do ENEM das escolas da rede pública".

B) Essa ideia ridícula, desqualifica ainda mais nosso tão atacado ensino público. Desmoraliza enormemente o professor da rede pública. Um coisa é ensinar conteúdo em sala de aula, que nossos professores tentam fazer, com baixos salários e escolas caindo aos pedaços. Outra coisa é TREINAR conteúdo em sala de aula limpa e com ar condicionado. É falso, é inflado, é irreal tal atitude. Assim, esses alunos que estão nesses cursinhos, tendem a achar que o seu resultado no ENEM se deve a esses intensivos e não a todo o processo de ensino aprendizagem dos últimos 3 anos no ensino médio PÚBLICO. 

C) Tal atitude vai aumentar o estigma de que  o sistema particular de ensino é melhor do que o da rede pública, o que não é verdade, como já provei várias vezes nas disciplinas que ministro aqui na UFG, quando consideramos questões sociais, econômicas e estruturais.

D) Com essa atitude, a SEDUC está nos dizendo algo assim: "Realmente, para nós, é muito mais fácil levar os meninos para terem aulas na rede particular do que valorizar nossas escolas e nossos professores". Em síntese meus amigos, a SEDUC está dizendo e gritando em alto e bom tom que FRACASSOU de forma efetiva em seus esforços de melhoria da rede pública. Isso é tão somente um atestado de INCOMPETÊNCIA. 

E quem vocês acham que vai levar a culpa disso tudo, principalmente por parte da sociedade??? Acertou quem disse que é o professor da rede pública, que vai ser confrontado pelos alunos e seus pais. Sem é claro, que os pais saibam o abismo em termos estruturais e salariais nessa diferença.

Lamentável. Estou irado. Eu não desisto. Mas isso chega às raias do absurdo.

Mas vocês podem me perguntar. Mas não é bom para os alunos, isso?

Caros, pode até ser bom, mas eles acabam sendo massa de manobra, entendem?

Abraços e meus pêsames a todos.

12 comentários:

  1. Realmente Marlon dessa vez foi pra acabar com o pequi do Goiás. A que ponto chegamos, o que mais me deixa indignada é o fato de que a sociedade recebe isso com bons olhos. Enquanto professores temos que buscar a conscientização de nossos alunos para que esses não sejam mais um número nas mãos de nosso "querido" secretário. E a cada dia uma boa educação em Goiás se torna cada vez mais utópica, porém, eu ainda acredito e lutarei. E como foi dito pela nossa presidente Dilma em seu discurso de posse, as verdadeiras autoridades da educação somos nós professores e não aqueles que estão em altos cargos, porém com baixa qualificação e formação para desempenharem os mesmos. Economistas para economia. Médicos para medicina. Advogados nos tribunais e professores para a verdadeira educação.

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  2. Infelizmente é isso mesmo que o nosso digníssimo Secretário de Educação quer: subir as notas do ENEM e desmoralizar os professores da rede pública!
    É isso que dá colocar um Economista para cuidar da educação de um estado, ou seja, a competência vem mais ainda de cima, do nosso digníssimo governador "Pão e Circo" Marconi Perillo!

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  3. Olá professor Márlon, é lamentável que nossos alunos sejam a "massa de manobra" utilizado para os ideiais da SEDUC. O efeito já é notório. Ontem, ao conversar com um aluno, me disse que foi escolhido para fazer esse "intensivão" disse que os professores são ótimos, é um outro nível de aula, com mais tempo e me recomendou o site do colégio como fonte de aulas de slides e listas de exercícios. Terminou, amenizando a situação dizendo que não que não fossêmos bons professores, mas lá era diferente. Simplesmente agradeci e falei para aproveitar a oportunidade então, o que estava fazendo respondendo as listas de exercícios que lhe foram entregues.

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  4. Realmente nosso sistema educacional atual tem fracassado. E para a sociedade e para os alunos, a culpa tem sido do professor, para as ditas melhorias a eles são apresentadas sendo necessário superar a deficiência ou incapacitação profissional do professor. Nas visitas às escolas para minha "duografia", tenho percebido que temos bons professores, principalmente nas regiões consideradas periféricas da cidade de Goiânia, e todos estes semtem-se acuados e sobrecarregados pelas ações da SEDUC.É necessário uma mudança, e quem tem que lutar por ela são os próprios professores que veêm todas as açõe que são realizadas que os desmoralizam e os responsabilizam cada vez mais e continuam imóveis, pois talvez consideram a causa perdida. E consideram que todas suas ações simplesmente vão resultar em ter que repôr aulas depois de um período de greve por lutar por seus direitos.

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  5. Agora sim, considero que é culpa do professor em parte por SUA situação atual, não a do sistema educional, este é devido ao sistema econômico, as políticas públicas, a estruturação de nossa sociedade entre outros mais.Mas a ausência de lutas e assistir a sua desmoralização calado, quieto, imóvel é no mínimo desesperador. Necessitamos atualmente de conseguir atingir a nossos professores, para que estes ajam em prol da sua profissão. Quem sabe, talvez, Professor Márlon, olhando agora por um ângulo diferente, e voltando a situação inicial o ENEM, essas possíveis notas "boas" venham a ser argumentos também para nós professores, venha a ser o insight (não achei outro termo) para os professores se unir, buscarem juntos melhorias para sua classe.

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  6. Finalizando, retornando ao exemplo do aluno que falei inicialmente, trabalhando no noturno não podemos passar exercícios extra-classe ou cobrar que os alunos resolvam, porém vemos estes fazendo exercícios que foram solicitados por outros meios. Necessitamos de valorização, que acreditem em nosso trabalho. Mostrando que não é só professores "ideais", mas situações de trabalho que oferecem bons resultados. Que o resultado a que se quer chegar não se alcança trabalhando sozinho, porém que é necessário colaboração e cooperação sempre. E para isto necessita da SEDUC, da escola, do aluno e dos pais onde cada um assume seu papel, pois cada um possui uma função primordial e essecial para que se chegue a bons resultados. Terminando, também não desisto da educação, acredito nos potenciais de nossos alunos e no futuro de nossa educação pública por isso vamos lutar e mudar essa triste situação atual.

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  7. Essa situação da educação nos faz pensar em tantas coisas, que parece impossível articular um assunto sem falar de outro, por isso conforme disse a Layla Karoline, a situação da educação em Goiás tem se tornado cada vez mais utópica, entretanto acredito na educação e luterei e é bom saber que tenho companheiros nessa longa e difícil jornada, rumo ao utópico mas não ao impossível.

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  8. professora Edna Sheron, sinto em suas palavras uma revolta pela qual eu compartilho. Porém não vejo a resolução atual da situação educacional como utópica. Se estamos identificando o problema existe um caminho para a resolução. O "tal" pacto pela educação está aí, sendo discutido. Segundo o Secretário de Educação, aberto para contribuições. Quantas deixaremos? A ideia é além de "botar a boca no trombone" documentar nossa insatisfação. Sei que é fácil falar, mas realmente não dá pra ficar como está.

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  9. Realmente companheiro Jonney devemos deixar nossa contribuição. Já que somos nós os mais interessados em que algo de realmente bom possa começar a surgir em nossas salas de aula. Quando disse utopia a Edna me complementou muito bem, como a professora Agustina nos disse utópico sim , impossivel não. Transformemos então nosso ideal em uma ideologia de uma classe. Com a boca no trombone, com os pés nas ruas, com as ideias sendo disseminadas atraves de redes sociais...seja de que maneira for, eis-me aqui.

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  10. eu acho isso tudo muito legal, assim quem sabe a escola publica nao torna-se de qualidade, pq esses professores sem vergonha tem q dar aula de direito tem que fazer o aluno passar no vestibular a educaçao e assim mesmo um evoluir de sucessoes vc apenas pula de nivel e como se fosse um jogo so q nesse caso de escolaridade

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  11. Caro Anônimo,
    é muito fácil fazer um comentário sem nem ao menos se identificar. Isso mostra a mim, Mariana - professora efetiva da Rede Pública Estadual de Educação - o quanto as pessoas estão perdidas quando o assunto é Educação Pública. Convido você, anônimo, a se informar sobre o assunto e se quiser, a participar de uma aula ministrada por mim(Colégio Estadual Menino Jesus), antes de sair falando qualquer coisa por aí. O professor tem ética, é um profissional e deve ser respeitado. Bem que eu adoraria ministrar aulas na rede particular de ensino por alguns meses para que o Governo pudesse avaliar se de fato sou eu ou o meu aluno que precisa melhorar. Se os alunos podem experimentar melhores condições de aprendizado eu também gostaria que o Estado proporcionasse a mesma experiência a mim. A responsabilidade da educação é do professor, Estado, família e do próprio estudante. Não é e nem pode ser só minha.

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  12. Diego França e Silva.30 de setembro de 2011 às 12:35

    Eu estudei em escola particular e a filosofia de trabalho não é aplicável na rede pública, lá tem uma lógica de exclusão daqueles que não se adaptam. Diferente da rede pública que tem o dever de atender a todos. Sempre que alguma pessoa tenta comparar as duas escolas sem entender quais são as realidades nas quais elas estão inceridas suponho que essa pessoa ou é estupida ou mau intencionada...

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