segunda-feira, 20 de agosto de 2012

AS COTAS PARA NEGROS NAS FEDERAIS

Goiânia - Ano II - 113

Olá Químicos e Agregados.

Esse fim de semana eu vi nos jornais o protesto de estudantes de escolas particulares contra a cota nas federais para negros e alunos de escolas públicas.

Vi todas as fotos da passeata. E vi também a quantidade de negros nessa passeata. Nas fotos que vi, nenhum.

E eu. Sou contra ou a favor? Vamos a um pequeno histórico de minha vida:

1) Quando eu cursei o primário, de 1a. a 4a. série, em uma escola pública na gloriosa cidade de Centralina - MG, éramos em média, 40 crianças na sala de aula. E havia o Nilton. Negro. Ou seja, 2,5% da sala.

2) Da 5a. série até a 7a. série, na mesma escola e na mesma cidade, vejam só, não havia mais o Nilton. Teve que abandonar para ajudar os pais na fazenda. Não havia mais o Nilton. Negro. 0% da sala.

3) Na 8a. série, já em Uberlândia - MG, cidade de mais de 600 mil habitantes, tive a sorte de estudar em uma das melhores escolas públicas da cidade. Minha sala tinha 43 alunos. Não havia Negros. 0% da sala.

4) Aí fui para o ensino médio. Já estudando à noite, pois tive que trabalhar. Do 1o. ao 3o. ano do Ensino Médio, éramos em média, 40 alunos por sala. 120 nos três anos. Total de negros: 3.De novo, 2,5% da sala. Impressionante é eu me lembrar do nome do Nilton e não me lembrar dos outros três do ensino médio. Minha memória recente tá horrível.

5) Depois, universidade. Entre 1992 e 1998 na Universidade Federal de Uberlândia, cursando Química, eu conheci uma quantidade "expressiva" de Negros, se comparados ao meu ensino básico: 5 (cinco), em um universo de quase 300 alunos, entre eles o Hélder, hoje, professor do curso de Química da UFU.

6) No mestrado e no doutorado na UFSCar, em um universo de quase 400 alunos, conheci 2 negros. Não, na verdade não fomos apresentados pois eram de outro laboratório. Eu os via na Química.

7) Já como professor aqui na UFG, o que vejo? Somos 40 professores. 4 negros. Somos 400 alunos, entre graduação e pós graduação e temos no máximo, 15 negros.

E por que eu escrevi isso tudo? Ora, segundo o banco de dados criado pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República) juntamente com a Faculdade Zumbi dos Palmares, 51% da população brasileira é constituída por negros. Uma diferença não muito significativa com os dados do IBGE (Cerca de 46%).

Ou seja, dá pra ver que a minha história não é muito diferente da maioria de nós, brancos, no país. Negros NÃO estão incluídos em nenhuma etapa do ensino formal no Brasil. Compare então as porcentagens da população com as porcentagens de inclusão na educação formal. Chega  a ser covardia.

Agora, pergunte-me de novo se sou ou não a favor das cotas? É claro que sou a favor.

Eu não sofri racismo na sociedade e na escola, em todos os níveis e em todos os momentos. Eu não precisei ouvir piadas ridículas e racistas desde o primário. Eu não fui preterido por professores brancos. Eu não fui preterido em times na educação física. Eu tive uma grande quantidade de oportunidades, inclusive em entrevistas de emprego. 

Se em algum momento você acha que isso tudo não influencia a aprendizagem de uma criança. Você realmente tem que rever seus valores.

Mas não sou especialista. Até sexta feira, uma especialista na área escreverá nesse blog.

Sempre abrindo espaço para o contraditório, lembrando a todos para não xingar ou ofender ninguém.

Abraços a todos. Ainda volto para falar das cotas para estudantes de escolas públicas.


19 comentários:

  1. Tbem sou a favor, só acho que o que vai ter de galera injustiçada por ai. Conheço uma porção de pessoas que nem tem as condições necessárias para matricular os filhos em escolas particulares, mas mesmo assim matriculam para que as chances do seu filho ser "alguem na vida" aumente. Sem falar que a quantidade de pessoas que vão entrar numa faculdade pública sem ter uma boa formação no ensino médio vai aumentar. Isso tudo devido ao ensino público ser de péssima qualidade. MAAAAAAAAAAAAAAAAAS vaamo vÊ o que acontece neah?

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  2. fui ao protesto contra as cotas, seria válido lembrá-lo que a educação nas escolas públicas tem piorado a cada dia que passa. Nosso movimento é claro, queremos uma melhoria na educação que o governo oferece, queremos competir de igual pra igual. Nós, das escolas particulares, sabemos que é um processo lento, demorado, talvez até impossível. Mas fomos a luta. Hora alguma contestamos as cotas para negros, o que queremos mostrar a todos é que o governo quer disfarçar sua incompetência com as cotas, que claro...será aprovada pelo povo. Não se constrói uma casa começando pelo telhado, é necessário mudar a base. Vamos além, o governos está confirmando a incapacidade, não estou generalizando, da educação oferecida aos alunos da rede pública. Quer um exemplo? Alguém ouviu falar de cotas no ITA? Repensem, adotem também essa ideia. o Brasil é realmente 'um país de todos?'

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  3. Caro Teacher, sou a favor da política de cotas para ingresso nas universidades públicas, desde que o critério utilizado seja para alunos oriundos de escolas públicas, pois sabemos da discrepância entre os conteúdos ministrados nas redes públicas e privadas, tornando a concorrência desleal. Agora com relação a cotas para negros, sou contra pois acredito que isso nos levará a uma situação que aumentará a segregação racial, e como visto em outros países a intolerância. Precisamos enquanto educadores trabalharmos para a erradicação do racismo em nossas escolas e posteriormente atingiremos a sociedade de maneira em geral, mas acredito e reitero que a política de cotas para negros não ajudará neste processo, pelo contrário teremos o aumento das atitudes racistas que são totalmente repugnantes. Acredito que a Universidade PÚBLICA, como o nome propõe, é para todos, e a única forma para tentarmos atingir este objetivo é aumentar o percentual das vagas no vestibular destinadas aos alunos de escolas públicas, contemplando assim um número maior de pessoas que estão a margem da sociedade, esta sociedade brasileira de vasta diversidade, e não um grupo específico.

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    1. Interessante Elias.
      Não saberia dizer se houve ou não aumento de atitudes segregacionistas na universidade depois das cotas. Quem é intolerante na universidade, é também na vida normal. Então, penso que a questão do racismo não é interior à universidade, mas na sociedade. Abraço e valeu.

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  4. Caro amigo Márlon, que saudades das nossa conversas e brincadeiras no DA da química. Bom, para quem não me conhece meu nome é Sebastião, sou professor do IFSP-campus Avaré e fui um dos poucos negros que o Prof. Márlon conheceu na faculdade. Como o professor também tive poucos amigos negros na escola pública em que estudei. Eram mais no ensino fundamental e muito menos no ensino médio. Eu sou filho de uma trabalhadora rural, analfabeta e mãe solteira. Meus avós eram negros, lavradores e também analfabetos e meus bisavós eram escravos. Hoje tenho 3 filhos que estudam em uma escola particular com mais de 500 alunos e são os únicos negros em suas salas. Meus filhos pretendem prestar vestibular para medicina, direito e engenharia e tenho certeza que poderão concorrer de igual pra igual com a maioria dos alunos. E meus netos terão melhores oportunidades que meus filhos. Aonde quero chegar com essa história? As cotas hoje são o meio mais rápido de pagarmos um dívida que a sociedade tem com os negros e talvez em um futuro próximo não precisaremos mais delas. Não podemos esperar mais 100 anos....
    Abraço a todos

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    1. Eu não posso acrescentar mais nada a esse texto. Esplêndido. Saudades Tião!!!!

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  5. E cotas para amarelos e seus descendentes? O texto é emocionante, mas resume uma situação educacional?

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    1. Oi Anônimo. Penso que os Amarelos não passam e não passaram pelo que os negros passaram. Não sei se o texto resume uma situação educacional. Resumiu a minha e a do Sebastião e seus filhos, logo acima. Penso que de muita gente também. Faça um esforço em sua memória. Você estudou mesmo com muitos negros? Abraço e valeu.

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  6. Caro Marlon,

    Gostaria de indicar um artigo escrito por mim em defesa as cotas!

    http://www.infoenem.com.br/por-que-sou-a-favor-das-cotas-sociais-e-raciais/


    Forte abraço....

    Prof. Fernando Buglia

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  7. É uma maneira de diminuirmos as diferenças e injustiças históricas!

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  8. Bom não sou a favor e nem contra , mas sera que não seria melhor cobrar do governo que melhore a educação. Publica dessas escolas ? Pois penso que se o aluno que venha da escola publica e que não teve bons professores e um ambiente bom para o estudo sera prejudicado demais dentro da faculdade !! Vc como professor teria paciencia e disponibilidade para aplicar uma maior atenção e explicar a ele certas coisas que ele nao aprendeu no ensino medio por falta de qualidade de ensino ? Eu como aluna da ufg reparo qe os professores não tem paciencia para explicar materias que deveriamos ter aprendido nas escolas , a maioria fala " bom , isso vcs aprenderam na escola entao nao preciso explicar " então me pergunto sera que os professores estao preparados para as cotas ? Fabiola Palharini

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    1. Boa Fabíola. Acrescento mais. Nossos professores estão preparados pra ministrar aulas? Ponto.

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  9. eu acho que tinha era que melhorar ensino de escola publicas, nao fazer com que as faculdades federais chegem no nivel de uma escola publica ne nao????
    agora é sacanagem sim. nao sou preconceiturosa, mas diz ae, colocar uma cota so pq eles sao negros? de um certo ponto de vista ai tem um certo preconceito, uma desigualdade entre o povo, seja cor ou nao todos tem o mesmo direito, sendo negro branco amarelo, azul ou verde. e fazer com que a escola publica alcance um ensino melhor deveria ser a meta, nao afundar o ensino de uma federal que ja e dificil demais assar dependendo do curso. VAMOS ACORDAR PRO BRASIL QUE VIVEMOS, QUE NAO TEM PERSPECTIVA DE MELHORAS, DEVEMOS LUTAR POR UM BRASIL MELHOR E NAO VAI SER ASSIM QUE VAMOS CONSEGUIR. #VETADILMA

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    1. 80% da universidade (caso da UFG) não precisa da cota. Mesmo os cotistas entram com nota do vestibular universal. Em alguns casos da UFG, mais de 90% da turma é oriunda da escola pública com boa quantidade de negros. Na UFG as cotas são utilizadas somente nos cursos de elite, tais como, Medicina, Direito, etc. Logo, se o nível da universidade não caiu nos últimos anos, não cairá agora. Falácia, esse negócio que o nível vai cair. Já trabalhamos com esse grupo há pelo menos 5 anos. Agora, o pessoal da Medicina, Direito, etc, terá que trabalhar também. Abraço e obrigado pela contribuição.

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  10. Sou contra, mesmo sendo moreno e tendo tenho parentes negros, e descordo que só por serem negros devem ter direito a mais vagas que os brancos. O negro, quanto qualquer um ser humano com perfeita saude, tem a mesma capacidade de aprender, acho que devem haver cotas para oriundos de escolas publicas que seja branco, negro, pardo sofrem a mesma injustiça e descaso do gorverno, qualquer cor desde que faça parte da classe menos favorecida em certos casos tem que deixar a escola pra trabalhar(brancos e probres também são vitimas do preconceito da sociedade).

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    1. Essa é a maior das discussões. Cota racial ou social? Sou a favor das duas...A grande discussão é como dizer quem é ou não negro. Depende muito da auto declaração. Aí é que complica. Muita gente que não se achava negro, passa a se achar. Fica difícil...

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  11. Sou contra a qualquer tipo de cota em relaçao a universidades federais, Esse tipo de politica de cotas apenas mascara o problema da educação do país. Para haver um ensino de qualidade seria necessario melhorar a educação basica e não tentar remedia-la no ensino superior. Infelizmente o rumo em que estamos não falta muito para tentarmos imitar a educação americana. Na educaçao americana temos escolas basicas publicas de alto nivel, porem faculdades publicas de baixo nivel. Agora no Brasil teremos universidades publicas de baixo nivel e ensino basico de baixo nivel ,ou seja, as universidades particulares acabaram sendo mais respeitados do que uma propria federal. Agora em relação a cotas para negros acredito que isso não seria necessario para justificar essa minha afirmação, sabemos que os negros foram escravizados no Brasil, porem os proprios negros que vendiam seus comtemporaneos na Africa aos brancos. Entao a justificativa de cotas so por escravidao é invalida. Seria interessante o governo dar um bolsa estudo para um aluno do ensino publico para incentivar ele a estudar em vez de trabalhar, desde que o mesmo continue mostrando resultados satisfatorios.

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  12. Prof. Fernando Buglia, ainda não tive a oportunidade de ler seu artigo, mas quero ler quando tiver um pouco mais de tempo. Mesmo assim, gostaria de saber a sua opinião e do amigo Málon Soares a respeito do comentárrio do coléga Ramiro e suas opiniões, em meu ponto de vista, bem fundadas.
    Obrigado
    desde já.

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