quarta-feira, 9 de novembro de 2011

SOBRE OS ALUNOS DA USP E A INVASÃO DA REITORIA


GOIÂNIA - ANO II - 97

Olá Químicos e Agregados.

Bom. Teve um tempo em que eu fui aluno. E acreditem, fui do movimento estudantil. Fui presidente de Centro Acadêmico e até disputei uma eleição para o DCE na UFU (Tá certo que a chapa era de protesto, mas isso é outra história).

Caso não saibam, saberão agora. Já invadi reitoria em 92 para empossar um reitor eleito pelo voto e dormi em anfiteatro invadido a favor da moradia estudantil em 94. Tudo isso na gloriosa Universidade Federal de Uberlândia. Tá certo que minha vida era mais fácil do que os colegas que realmente dormiam todos os dias no anfiteatro invadido. Morava em Uberlândia e simplesmente ia pra casa tomar banho. Mas isso também é outra história. Vamos ao tema.

      Para mim, depois de todos os acontecimentos, fica claríssimo que o problema não foi gerado por causa da prisão dos alunos que fumavam maconha. É importante que todos saibam alguns detalhes interessantes, na forma de tópicos a serem discutidos: 

   1) O atual reitor foi empossado pelo Serra, mesmo tendo perdido a eleição entre os professores, técnicos e alunos. O Serra, na época governador, indicou um nome da lista tríplice, o reitor Rodas, homem forte de seu governo, dentro da USP;
    2)  A falta de segurança no campus da USP é uma realidade NACIONAL. A universidade simplesmente passa a repetir o que acontece em grande escala em nossa sociedade. Tá aí a UFG que não me deixa mentir, nem minhas alunas do LEQUAL (Flávia, Monah Lisa e Layla Roussef) assaltadas a mão armada no ponto de ônibus da UFG.

Discutirei esses dois pontos.

O primeiro, diz respeito ao movimento estudantil da USP, tentando se organizar para combater e pedir providências quanto ao que consideram várias bobagens e ações não transparentes da atual reitoria, empossada pelo Serra. Segundo os alunos, o reitor é investigado pelo Ministério Público por corrupção, nomeação de cargos públicos sem concurso, além de várias decisões que ferem a autonomia universitária. 

Nesse sentido, apoio a ação do movimento estudantil da USP e não há como não fazê-lo. É papel de estudantes de uma universidade exigir que ela seja uma universidade. E É papel da universidade formar cidadãos críticos, pois uma simples formação técnica especializada é papel de cursos técnicos. Universidades devem formar pensadores, transformadores e formadores de opinião em todas as áreas.

Rechaço aqui o papel equivocado de minorias de estudantes, que derrotados em assembléia estudantil, resolveram invadir a reitoria. Assim, critico a desorganização do movimento, infelizmente aparelhado por partidos políticos. Não rechaço o protesto, que acho válido. Critico a desunião e ações que não consideram a decisão democrática em assembléia.

Mas até aí, também não devemos ver a invasão como um problema enorme. A mídia vê tal invasão como uma coisa completamente absurda. Estudantes devem usar vários meios de protesto e a invasão é uma delas. Lembro-me de amigos durante as invasões que participei em 92 e 94 que sempre diziam: “É protesto pessoal. Vamos deixar tudo limpo, não quebrar nem pichar nada, já que isso é patrimônio público e quem sustenta isso é o povo que a gente defende...”. Guardo isso até hoje, como mote de minha carreira acadêmica.

O problema está na minoria que picha, suja, depreda e se esconde. Aí a mídia explora isso como se todos os estudantes da USP fossem desocupados, baderneiros, maconheiros, riquinhos, entre outros “adjetivos”. Uma ação bem orquestrada para tentar passar para a população uma mensagem bem clara: “Estão vendo? Tudo safado! Tem que cobrar mensalidade desse povo! Olha que absurdo!”. Porque os grandes meios de comunicação representam uma elite que ainda não quer largar seu osso. E essa mídia não quer saber dos reais motivos da invasão, como já descrevi acima.

E infelizmente, muita gente acredita nisso e tal aspecto se espalha na rede em uma velocidade espantosa, exatamente porque os próprios alunos de universidades, que deveriam ser críticos e analisar todos os lados da questão não o fazem e acreditam piamente no que a grande mídia coloca como verdadeiro.

Em relação ao segundo ponto, a violência dentro da universidade. Sou a favor da segurança dentro do campus. Se ela virá com a PM ou com uma polícia universitária, não é possível saber e é por isso que a discussão tem que ocorrer, não só na USP, mas em todos os campi que passam pelo mesmo problema.

Nossa preocupação não deve ser se a PM faz ou não o seu papel, ou se não sabe lidar adequadamente com estudantes universitários. Devemos nos pautar em decisões negociadas sempre e a PM deve seguir esse caminho e não o da violência contra estudantes. Nossa preocupação deve ser o fato de que a bandidagem simplesmente descobriu que as universidades são uma mina de dinheiro e uma ilha isolada sem qualquer tipo de segurança, calcada no lócus do conhecimento, mas sem nenhum tipo de policiamento. Esse é o problema, hoje.

Universidades são o lócus do conhecimento, a supremacia da ciência frente a interesses econômicos ou políticos. A PM é o instrumento de poder e de presença do estado dentro de uma universidade e é isso que é perigoso em termos de autonomia universitária. A solução talvez seja a reativação das guardas universitárias, devidamente paramentadas e não sucateadas. Essas soluções paliativas e terceirizadas de Seguranças de Patrimônio, como na UFG, não adiantam definitivamente, NADA, como todos sabemos. E é por isso que o movimento é interessante, para chamar a atenção para essas discussões que devem ser realizadas em todas as universidades.

Enfim. Não sou contra o movimento dos alunos da USP. Mas sou contra a forma com que tais ações foram realizadas, o que denota um movimento partidário sem união. Concordo com todas as reivindicações dos estudantes da USP, mas devo discordar que os fins justificam os meios. Mas também não concordo com a ação do reitor em mandar tirar os estudantes a partir de uma ação não negociada, na base da violência, que se não tiver sido física, foi moral.

Bom. Opinião é isso. Essa é a minha. Abraços a todos.

2 comentários:

  1. dignissimo professor marlon, o soberano dos soberanos, gostaria de entender a respeito de um movimento de total repressao contra os quimicos, pois, neste seminario (das licenciaturas) que ocorrera na ufg em novembro nao consta um trabalho de quimica entre os aceitos, o que é isso preconceito, ausencia de participaçao de quimicos no presente evento, afinal o que aconteceu...
    lutamos por um ensino menos segregador, e praticamos o mesmo na universidade, espaço que deveria ser o locus da interdisciplinariedade... sem comentarios

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  2. Prezada Aparecida.

    Erro na avaliação. Observe a nova programação e verá que os trabalhos da química apareceram. Pelo menos os nossos, eheheheh.

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