Goiânia - Ano II - 114
Olá Químicos e Agregados.
Continuando uma discussão sobre as cotas na universidade, O Blog do IQ UFG publica um texto da Profa. Dra. Anna Maria Canavarro Benite, construído exclusivamente para esse blog.
SOBRE O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
Profa. Dra. Anna Maria Canavarro Benite*
Hoje,
gostaria de convidá-los a pensar sobre a origem da cultura brasileira. Afinal
quem somos nós?
Fato
muito interessante acontece comigo todas as vezes que digo ou assino meu sobrenome.
Benite de onde??? Qual sua descendência? Ora sou daqui mesmo, afro-brasileira e
estudante de escola pública. Meu nome e sobrenome nasceram e se criaram nos
terreiros de candomblé, nas rodas de capoeira do Rio de Janeiro, isto é, dentro
das casas de meus avós, tios e primos, aos sons dos atabaques e berimbaus... E
é desse lugar cultural que me posiciono, pois só se fala com maior argumento do
lugar que se ocupa.
Por
sua vez, a cultura brasileira, a minha, a sua cultura, bem como a de
toda a América Latina é formada por uma estrutura triangular característica do
período de colonização resultado da mescla de tradições ameríndias, européias e
africanas. Porém, histórica e erroneamente o negro é visto como inferior e
caracterizado de maneira negativa. A comunidade afro-descendente, ainda hoje,
sofre com o preconceito, o descaso e a falta de oportunidades, fenômeno social
esse que teve origem no contexto vivido desde a época da colonização.
No Brasil, ainda persiste um
imaginário étnico-racial que valoriza as raízes européias de sua cultura
fazendo presente à desigualdade social e racial, bem como a desvalorização da
religiosidade, estética, corporeidade e musicalidade africana.
A
identidade cultural brasileira começa a ser construída após abolição
(1889-1930) com a adoção da política de imigração adotada pelo Estado, com o
intuito de apagar os sinais da miscigenação. Tais interesses foram disseminados
por representantes e intelectuais da época os quais propagavam que com o
decorrer do tempo a população brasileira iria embranquecer por meio do
apagamento de uma memória social.
Este
apagamento ocorreu apoiado em políticas de Estado adotadas na formação da
chamada “identidade cultural heterogênea” que encontra no sincretismo e no
multiculturalismo elementos operantes do mito
da democracia racial. Por sua vez, a primeira geração de intelectuais que
discute no Brasil as questões étnico-raciais tem em Gilberto Freyre seu maior
expoente. Este inundou o imaginário dos brasileiros com sua obra descrevendo
relações horizontais entre os senhores e escravos, uma sociedade sem conflitos,
harmoniosa.
Mas o que é um mito? O mito é expressão de negação e justificação
da realidade negada. O mito é uma
máscara capaz de subverter a realidade e adequá-la às necessidades “temporárias”
de determinados grupos: a distorção colonial como contrapartida da inclusão de
mestiços nos núcleos das grandes famílias.
Entretanto,
as memórias africanas transformadas em solo brasileiro, insistem, persistem e
resistem: o congado, a capoeira, o candomblé, o jongo, etc... Infelizmente a
educação não tem sido local deste movimento.
Diante desse cenário, está a escola
concebida como um microcosmo da sociedade que tem o poder de interferir na
formação do aluno e no seu posicionamento frente ao mundo. Apóio-me em Paulo
Freire para afirmar que o homem é um ser histórico, constituído socialmente,
que aprende por meio da interação com o seu meio: indivíduos pertencentes ao
mesmo local e tempo. E, deste modo, a instituição escolar se constitui
importante local de superação do mito.
Importa que as ciências ensinadas em
nossos bancos escolares se afastem da visão deformada de ciência branca,
eurocentrica e masculina. Para isso, urge que tenhamos diferentes
representatividades nos espaços de produção científica, espaços de
desmistificação ou não.
Gostaria de terminar parafraseando
um querido amigo, professor Guimes Rodrigues, quando afirma que “num momento em que se busca, através da
ciência genética, sacramentar a não existência de raças, a nós, negros, isso
pouco importa, porque a raça negra é, para além da ciência, um conceito que
fortalece a nossa identidade e imprime orgulho para enfrentar o racismo
brasileiro”.
Não
há como negar nossa construção histórica, esses são nossos limites sociais. Por
outro lado, tenho uma boa notícia: não temos experiência histórica no Brasil
com inclusão nas diversas instâncias sociais.
*Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e
Inclusão-LPEQI
Como sempre, amplo espaço ao contraditório a quem quiser comentar. Sem ofensas ou xingamentos. Abraços a todos.
Não consegui fazer uma associação adequada entre o texto e questão das cotas.
ResponderExcluirAcredito que autora não se refere a cotas, e sim a questão do mito democrácia racial, que é muito falado e pouco efetivo na prática.
ExcluirTalvez essa realidade mude com os estudo da Historia da Africa e dos Africanos matéria obrigatória nos cursos(ou pelo menos deveria ser), seguindo a Lei 10.639/03, existe ainda um longo caminho a ser percorrido mais acredito que a discriminação irá ser cada vez menor,só acredito que como brasileiros temos uma identidade mesclada de todos os povos que devem ser respeitadas, o índio foi tão massacrado quanto o negro e não existe nenhum esforço quanto a isso, cota é uma bobagem é preconceito puro disfarçado.
ResponderExcluirolha esse lance que o Rafael escreveu assima é um tanto quanto puck porque além do aluno ter 209299092 disciplinas ele ainda tem que estudar coisa de africano, todo mundo sabe que tem o pezinho na africa, ate pq antes da pangeia tudo tava junto miturado. eu acho um porre tanta separaçao. recentemente vi trabalhos que abordam umas coisas de racismo e quimica e por ai vai, de fato eu acho que outras partes deveriam ser pesquisadas, entre elas a questao de como ensinar quimica em salas lotadas, como fazer o aluno querer estudar trocar a o computador pelo livros e por ai vai, racionalmente quando as pessoas criticam as pesquisas em educaçao, nao fazem isso erroneamente visto que tem base discutir ensino de quimica para negros, o fato da pessoa ser negra impede ela aprender? em termos das cotas isso é um puta falta de sacanagem do governo para fuder a classe media, e nao melhorar as escolas publicas, esquece que essas cotas sao para pagar a divida da sociedade com a escravidao, e so para mascarar a incoplenitudde do governo da Feiona.
ResponderExcluirMuito bom o texto escrito pela excelentíssima Professora Dr. Anna Benite, completamente esse contexto ao qual o ensino eurocêntrico continua a se impor nas escolas brasileira simplesmente adequado a população de um país COMPLETAMENTE diferente, esse deveria ser construído com a nossa cultura populacional que é a nossa grande diversidade descendentes da tríade Índios-Europeus-Africanos.
ResponderExcluirlucas puxa saco, já que competencia nao tem, mesmo
ResponderExcluir...
ExcluirNão vou apagar o quinto comentário para mostrar a todos que é esse tipo de atitude que condeno. Ofende a pessoa e não suas ideias. Além de ofender a pessoa, ainda se esconde atrás do anonimato.
ResponderExcluirVou insistir e continuar sem fazer moderação nos comentários com a esperança de que as pessoas se foquem nas ideias e não nas pessoas.
Não é difícil publicar sem ser anônimo. Há um item nos comentários que basta colocar o nome, nada complicado. Mesmo assim, ainda é possível se identificar durante o texto. Mesmo assim, ainda é possível não se identificar se não quiserem, basta não ofender ninguém.
Abraços a todos.
Em minha opinião, a descriminação racial é, em grande parte, produto da má distribuição de renda. Este fato atinge todas as raças. A educação fundamental e média de boa qualidade tem que ser provida a todos. Sabemos que isto ainda está para acontecer. A educação superior pública ou particular deveria ser oferecida a todos que quisessem continuar; e, no caso de o estudante ter que estudar numa faculdade particular e não tiver condições econômicas para sustentar os estudos, que possa financiar seus estudos através de uma institui8ção financeira pública e pagar quando estiver empregado e que as prestações não passem de 5% de seu salário líquido.Em vista do exposto acima, enquanto os pais estiverem ganhando micro salário, não houver escolas suficiente, salário digno aos professores, adequação das instalações de ensino e ótimo material didático, Teremos que tolerar soluções paliativas como as cotas nas universidades, propaganda governamental sugerindo aos empregadores praticar a política de oportunidades iguais (o que não está acontecendo) e aceitar o paternalismo do governo para não perecermos, pois, sem essas medidas, haveria o caos social, ou seja, pobres tomando dos ricos e dos supostos ricos para sobreviverem. Seria guerra sem tréguas. As raças prejudicadas e seus simpatizantes devem se organizar para dar combate ao racismo óbvio e ululante em nosso meio. Sou a favor do amor e da justiça em todos os departamentos.
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